A mais grave crise financeira desde a Grande Depressão, iniciada em 1929, está a destapar as maiores fraudes da História e os mecanismos que estão por detrás delas. Nos últimos meses, nomes como Madoff, Nadel, Stanford ou Kerviel já não soam a estranho a ninguém.
Os chamados esquemas piramidais e esquemas de Ponzi estão nas bocas do mundo, fazendo-nos recuar a meados da década de 90, quando se descobriu que este tipo de esquemas representava cerca de 30% do PIB da Albânia.
Em épocas de euforia, quem tem dinheiro, investe. E quem aplica o seu dinheiro nestes esquemas fraudulentos é, na maioria das vezes, bem enganado. Até porque as coisas correm muito bem enquanto não há crise. Mas quando se dá uma recessão como aquela em que o mundo está mergulhado, a necessidade de capital bate a todas as portas. E é nessa altura que as coisas se complicam para os burlões. Os clientes acorrem em simultâneo a pedir o seu dinheiro de volta. E é então que o esquema colapsa.
Mas de quem é a culpa? Como é que estes negócios escuros podem durar tanto tempo sem serem descobertos? E como há tantos investidores a serem ludibriados? Estas são algumas das perguntas que estão actualmente em cima da mesa. A credibilidade dos "hedge funds", que não fizeram os estudos necessários para saberem se era seguro ou não investir em determinados fundos, está posta em causa. Não procederam ao que é conhecido como "due diligence". E porquê? Confiança a mais? Os próprios reguladores saem mais fragilizados a cada nova fraude que é desmontada. A pergunta que mais se ouve é "como puderam não identificar sinais que deveriam ser óbvios"?
"Por vezes é difícil desmontar esquemas, pois estão bem montados. Noutros casos, acho que há negligência ou corrupção da supervisão. Interrogo-me como é que a SEC [autoridade reguladora do mercado de capitais norte-americano] pode ter inspeccionado localmente os escritórios de Madoff e não ter detectado nada de estranho...", comentou ao Negócios João Duque, professor de Finanças no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).
É difícil traçar o perfil de um "burlão". De origem humilde ou rica, como mais ou menos relevo na sociedade, na sua maioria o que os caracteriza é a ambição de enriquecer rapidamente, a aventura (risco) de alcançar lucros de uma forma ilícita e a habilidade, ou não, na fuga à justiça.
Em Portugal, todos anos surgem novos casos de burla, corrupção, suborno, falsificação, abuso de confiança, entre outros, mas há sempre uns que se destacam pela amplitude das "façanhas" alcançadas ou pelas personalidades que envolvem. Apesar de não ser o seu principal fim, a fraude resulta muitas vezes num teste ao sistema, que nem sempre consegue impermeabilizar-se do crime. "Como é possível ultrapassar reconciliações bancárias, reconciliações com Câmaras de Compensação e não detectar nada... Incompetência? Corrupção?", interroga-se João Duque.
"É de estranhar que se garantam taxas de rentabilidade superiores à taxa sem risco de produtos que não apresentam risco. É de estranhar comportamentos do preço de activos que nunca apresentam perdas de valor e se destacam claramente dos 'benchmarks'. Se me prometerem que me garantem o capital, que em cima me dão a taxa de remuneração sem risco e ainda me garantem taxa de remuneração do índice accionista se ele subir, aqui há gato...", diz o professor do ISEG. E salienta que garantir o capital ao fim de cinco anos não significa não perder dinheiro. "Significa a perda do juro e é com esse juro não pago que se podem comprar produtos derivados e aditivar a remuneração do instrumento financeiro em causa. Mas, de qualquer modo, há a perda do juro e isso já é uma penalização. Mas se me garantem tudo, então é de desconfiar...", conclui.
É justamente a alta rentabilidade e e ausência de risco que fazem com que estes esquemas durem tanto tempo sem rebentarem. Os mais crédulos caem facilmente. E há vítimas que até podem analisar o investimento, mas não possuírem conhecimentos adequados para avaliar o grau de risco. Seja qual for a lacuna, o certo é que entre os lesados não estão apenas cidadãos mal informados. Na lista pública de lesados por Madoff, constam mais de 13.000 nomes.
Transportada para um cenário moderno, Miss Marple teria hoje uma série televisiva intitulada "Fraude, disse ela"...
Os chamados esquemas piramidais e esquemas de Ponzi estão nas bocas do mundo, fazendo-nos recuar a meados da década de 90, quando se descobriu que este tipo de esquemas representava cerca de 30% do PIB da Albânia.
Em épocas de euforia, quem tem dinheiro, investe. E quem aplica o seu dinheiro nestes esquemas fraudulentos é, na maioria das vezes, bem enganado. Até porque as coisas correm muito bem enquanto não há crise. Mas quando se dá uma recessão como aquela em que o mundo está mergulhado, a necessidade de capital bate a todas as portas. E é nessa altura que as coisas se complicam para os burlões. Os clientes acorrem em simultâneo a pedir o seu dinheiro de volta. E é então que o esquema colapsa.
Mas de quem é a culpa? Como é que estes negócios escuros podem durar tanto tempo sem serem descobertos? E como há tantos investidores a serem ludibriados? Estas são algumas das perguntas que estão actualmente em cima da mesa. A credibilidade dos "hedge funds", que não fizeram os estudos necessários para saberem se era seguro ou não investir em determinados fundos, está posta em causa. Não procederam ao que é conhecido como "due diligence". E porquê? Confiança a mais? Os próprios reguladores saem mais fragilizados a cada nova fraude que é desmontada. A pergunta que mais se ouve é "como puderam não identificar sinais que deveriam ser óbvios"?
"Por vezes é difícil desmontar esquemas, pois estão bem montados. Noutros casos, acho que há negligência ou corrupção da supervisão. Interrogo-me como é que a SEC [autoridade reguladora do mercado de capitais norte-americano] pode ter inspeccionado localmente os escritórios de Madoff e não ter detectado nada de estranho...", comentou ao Negócios João Duque, professor de Finanças no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).
É difícil traçar o perfil de um "burlão". De origem humilde ou rica, como mais ou menos relevo na sociedade, na sua maioria o que os caracteriza é a ambição de enriquecer rapidamente, a aventura (risco) de alcançar lucros de uma forma ilícita e a habilidade, ou não, na fuga à justiça.
Em Portugal, todos anos surgem novos casos de burla, corrupção, suborno, falsificação, abuso de confiança, entre outros, mas há sempre uns que se destacam pela amplitude das "façanhas" alcançadas ou pelas personalidades que envolvem. Apesar de não ser o seu principal fim, a fraude resulta muitas vezes num teste ao sistema, que nem sempre consegue impermeabilizar-se do crime. "Como é possível ultrapassar reconciliações bancárias, reconciliações com Câmaras de Compensação e não detectar nada... Incompetência? Corrupção?", interroga-se João Duque.
"É de estranhar que se garantam taxas de rentabilidade superiores à taxa sem risco de produtos que não apresentam risco. É de estranhar comportamentos do preço de activos que nunca apresentam perdas de valor e se destacam claramente dos 'benchmarks'. Se me prometerem que me garantem o capital, que em cima me dão a taxa de remuneração sem risco e ainda me garantem taxa de remuneração do índice accionista se ele subir, aqui há gato...", diz o professor do ISEG. E salienta que garantir o capital ao fim de cinco anos não significa não perder dinheiro. "Significa a perda do juro e é com esse juro não pago que se podem comprar produtos derivados e aditivar a remuneração do instrumento financeiro em causa. Mas, de qualquer modo, há a perda do juro e isso já é uma penalização. Mas se me garantem tudo, então é de desconfiar...", conclui.
É justamente a alta rentabilidade e e ausência de risco que fazem com que estes esquemas durem tanto tempo sem rebentarem. Os mais crédulos caem facilmente. E há vítimas que até podem analisar o investimento, mas não possuírem conhecimentos adequados para avaliar o grau de risco. Seja qual for a lacuna, o certo é que entre os lesados não estão apenas cidadãos mal informados. Na lista pública de lesados por Madoff, constam mais de 13.000 nomes.
Transportada para um cenário moderno, Miss Marple teria hoje uma série televisiva intitulada "Fraude, disse ela"...
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