BCP reforça rácio de capital com venda de títulos a clientes
O Banco Comercial Português (BCP) prepara-se para emitir ainda este ano 1,2 mil milhões de euros em valores mobiliários, que não são acções normais nem preferenciais, para reforçar os rácios de capital. Estes títulos não implicarão qualquer diluição da posição relativa dos actuais accionistas e deverão ser vendidos junto dos clientes do BCP, através da sua rede de balcões.
COMENTÁRIO:
Mr Pontes:
BCP: Regime de favor do BdP salva ano de 2008 do BCP. Polónia continua a penalisar. Crédito mal parado é problema crescente. Roménia continua má aposta. Downgrade de 1,75 € para 1,131 €. MANTER...
O BCP encerrou 2008 com um favor especialmente criado pelo Banco de Portugal que lhe salvou as contas dum prejuízo histórico. Um favor concedido, que permite ao BCP disfarçar a realidade, e esconder a face, de forma condicente com o período de Carnaval em que vamos entrar. É que tendo-se atrasado nos últimos anos em cobrir o déficit acentuado do seu Fundo de Pensões, que garante as reformas dos seus trabalhadores, cujo valor atingiu - 777 M€ no final do ano, o Banco de Portugal permitiu que as Instituições Bancárias em Portugal fizessem o reconhecimento do deficit em 4 anos. Um regime de excepção que o Banco de Portugal criou especialmente para o BCP, já que as outras Instituições Bancárias não precisam expressivamente desta situação. Regime de excepção do qual as outras Instituições deveriam reclamar, e o mercado deve desconfiar. É que o BCP afirma pomposamente ( http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=354900 )que "No final do ano passado, as responsabilidades para com pensões de reforma ascendiam a 5,723 mil milhões de euros e estavam totalmente financiadas, superando, portanto, os limites mínimos de financiamento definidos pelo Banco de Portugal. Para este saldo contribuiram as entregas efectuadas em dinheiro no montante de 777 milhões de euros". Totalmente financiadas, mas AINDA não repercutidas nos Resultados. É que para o BCP foi menos difícil pôr lá os 777 M€, mas porque o Banco de Portugal lhe concedeu 4 anos para reconhecer o custo respectivo, ficaram em Diferimentos 534,2 M€ que afectarão custos à média de 133,55 M€ nos próximos 4 anos. É como ter a casa suja, e ter autorização para a limpar em 4 anos!! Mas há mais: o JdN afirma (http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=354962#)que "O Banco Comercial Português (BCP) prepara-se para emitir ainda este ano 1,2 mil milhões de euros em valores mobiliários, que não são acções normais nem preferenciais, para reforçar os rácios de capital. Estes títulos não implicarão qualquer diluição da posição relativa dos actuais accionistas e deverão ser vendidos junto dos clientes do BCP, através da sua rede de balcões". Diz o JdN que os títulos não implicam diluição, mas a realidade é que penalisam os investidores do BCP. É que enquanto os accionistas irão ser remunerados a apenas 2,3% em 2008 (dividendo de 0,017 €, face à cotação de 0,725 € de ontem), esses títulos de participações preferenciais vão ser remunerados a 6,5% nos 2 primeiros anos, e a um mínimo de 4,5% nos anos seguintes, dependente da Euribor. Ora essa remuneração prejudica os accionistas, e penalisa os Resultados no futuro, e deve ser já descontada nos targets, como eu faço. Quanto aos Resultados apresentados, destaco que o BCP tem a grande queda em Portugal, onde registou apenas lucros liquidos de 107 M€ (face a 451 M€ em 2007). E que trabalhou para "aquecer" na Polónia onde teve lucros de 118 M€, mas onde perdeu via Balanço (não afectou directamente resultados) 114 M€ só no 4º Trimestre/08 devido à desvalorização do zloty de 3,3939 (30-Setembro-2008), para 4,1167 por euro (31-Dezembro-2008). E, a operação na Roménia, continua deficitária, e a penalisar as contas. Preocupante foi a Imparidade de Crédito de 204 M€ só no 4ºTrimestre/08, embora até se possa "suave" (e esconder uma realidade mais dura)perante os conhecidos casos de incumprimento como do Privado Holding em mais de 100 M€, por exemplo. O fundo de pensões com activos de 5,7 mil M€, tem cerca de 23% aplicados em acções, o que no actual contexto é um risco muito elavado para o futuro, e deve também ser descontado, como eu faço. Assim, e de forma muito criteriosa, avalio o BCP da seguinte forma, pela soma e subtracção dos seguintes itens, por cada acção do BCP: book value (valor contabilistico dos capitais próprios, retirando as acções preferenciais sem voto) de 1,057 €. A projecção descontada de Resultados futuros vale + 0,276 €. A desvalorização subsequente do zloty de 4,1167 em 31-12-2008 para 4,90 por euro ontem, implica -0,027 €. O diferimento do déficit do Fundo de Pensões, em 534,2 M€, representa -0,115 €. O pagamento de juros entre 4,5% a 6,5% às novas participações preferenciais anunciadas, penalisa as acções em -0,032 €. E o risco de desvalorização subsquente da parcela de acções do Fundo de Pensões leva-me a estimar um desconto adicional de 0,028 €. E assim, o meu novo target do BCP é de 1,131 € (1,057 + 0,276 - 0,027 -0,115 -0,032 -0,028). E, assim, com um potencial de subida de apenas 56%, e muitos riscos para o futuro (crédito mal parado, maior desvalorização potencial do Fundo de Pensões, os quais podem levar a novos aumentos de capital próprio para cumprir o Tier I a 8% a partir de Setembro de 2009), recomendo MANTER BCP, com necessidade de alerta constante.
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