O argumento é, mais ou menos, o seguinte. A crise económica é o resultado da ganância (principalmente da “gente de Wall Street”).
O capitalismo e o "neo-liberalismo" "permitem" e "estimulam" a ganância. Logo, conclusão lógica, a crise da ganância desacredita, definitivamente, o liberalismo e o capitalismo. Até alguns que se julgavam liberais começam a aceitar a tese anti-capitalista. Se me permitem, discordo. E discordo absolutamente. Quando as sociedades produzem riqueza, é relativamente fácil defender as ideias liberais. Nos momentos de crise, é mais difícil, mas é fundamental fazê-lo.
Voltando à ganância, vale a pena citar, demoradamente, Max Weber, na "Introdução" à "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo": "instinto do lucro, sede de ganho, de dinheiro, do maior ganho monetário possível, não têm absolutamente nada a ver com o capitalismo. Esta aspiração encontra-se e encontrou-se em criados, médicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionários corruptos, soldados, salteadores, cruzados, jogadores, mendigos, em todos os tipos e condições de pessoas, desde que para isso houvesse ou haja possibilidades objectivas...Uma sede de ganho ilimitada de modo nenhum é idêntica a capitalismo, e ainda menos ao seu espírito. O capitalismo pode mesmo ser identificado... com um refrear racional deste impulso irracional".
Há três pontos que devem ser sublinhados. O primeiro é o mais evidente: a ganância sempre existiu, e sempre existirá, quer nas sociedades capitalistas, como noutros sistemas económicos. Ou seja, faz parte da natureza humana; não é responsabilidade do capitalismo. Pelo contrário, e aqui chegamos ao segundo ponto, se for devidamente entendido, aplicado e praticado, o capitalismo e a economia de mercado limitam e controlam a ganância.
Como demonstrou Max Weber no seu famoso estudo, e como confirmam amplamente análises mais recentes sobre a história do capitalismo moderno, a economia de mercado é irmã gémea do estado de direito. Sem bons códigos e sem tribunais competentes, o ‘mercado' torna-se uma caricatura e sofre de enormes vícios. Uma sociedade poderá produzir riqueza, os seus membros poderão enriquecer, mas a ganância não é controlada. Dito de outro modo, sem uma ordem jurídica forte e independente, não há uma verdadeira economia de mercado. A integração europeia constitui o melhor exemplo. As suas construções mais completas são o Mercado Único e o Direito Comunitário. Vivem como irmãos gémeos: nasceram e cresceram juntos.
Mas o capitalismo não depende apenas do estado de direito, também se apoia numa ética individual, ou o que Weber também chamou o "dever profissional". É este o "espírito do capitalismo", um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento das sociedades capitalistas. O estilo de vida do capitalismo é norteado por um conjunto de regras e normas e pela responsabilidade individual. É justamente o "espírito" do capitalismo que explica a origem e a expansão do sistema capitalista, e não a origem do capital (a grande crítica que Weber faz a Marx).
O terceiro ponto diz respeito ao que acontece quando o espírito do capitalismo começa a desaparecer e o estado de direito fica fraco. É nessas circunstâncias que a "febre do ganho", a cobiça e a ganância prevalecem. Voltando à crise, ela resulta de lacunas do estado de direito e do progressivo enfraquecimento da ética capitalista. Para a resolver, será necessário melhores regras e melhor fiscalização e reencontrar uma ética individual que se perdeu.
Para concluir, mais uma citação de Weber: "o domínio universal da absoluta falta de escrúpulos própria do egoísmo interesseiro voltado para o ganho constitui, precisamente, uma característica específica de todos os países onde o desenvolvimento capitalista...se manteve atrasado". Não é a economia de mercado, mas a sua ausência, que causa a ganância. E a ganância limita-se com mais e melhor capitalismo.
O capitalismo e o "neo-liberalismo" "permitem" e "estimulam" a ganância. Logo, conclusão lógica, a crise da ganância desacredita, definitivamente, o liberalismo e o capitalismo. Até alguns que se julgavam liberais começam a aceitar a tese anti-capitalista. Se me permitem, discordo. E discordo absolutamente. Quando as sociedades produzem riqueza, é relativamente fácil defender as ideias liberais. Nos momentos de crise, é mais difícil, mas é fundamental fazê-lo.
Voltando à ganância, vale a pena citar, demoradamente, Max Weber, na "Introdução" à "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo": "instinto do lucro, sede de ganho, de dinheiro, do maior ganho monetário possível, não têm absolutamente nada a ver com o capitalismo. Esta aspiração encontra-se e encontrou-se em criados, médicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionários corruptos, soldados, salteadores, cruzados, jogadores, mendigos, em todos os tipos e condições de pessoas, desde que para isso houvesse ou haja possibilidades objectivas...Uma sede de ganho ilimitada de modo nenhum é idêntica a capitalismo, e ainda menos ao seu espírito. O capitalismo pode mesmo ser identificado... com um refrear racional deste impulso irracional".
Há três pontos que devem ser sublinhados. O primeiro é o mais evidente: a ganância sempre existiu, e sempre existirá, quer nas sociedades capitalistas, como noutros sistemas económicos. Ou seja, faz parte da natureza humana; não é responsabilidade do capitalismo. Pelo contrário, e aqui chegamos ao segundo ponto, se for devidamente entendido, aplicado e praticado, o capitalismo e a economia de mercado limitam e controlam a ganância.
Como demonstrou Max Weber no seu famoso estudo, e como confirmam amplamente análises mais recentes sobre a história do capitalismo moderno, a economia de mercado é irmã gémea do estado de direito. Sem bons códigos e sem tribunais competentes, o ‘mercado' torna-se uma caricatura e sofre de enormes vícios. Uma sociedade poderá produzir riqueza, os seus membros poderão enriquecer, mas a ganância não é controlada. Dito de outro modo, sem uma ordem jurídica forte e independente, não há uma verdadeira economia de mercado. A integração europeia constitui o melhor exemplo. As suas construções mais completas são o Mercado Único e o Direito Comunitário. Vivem como irmãos gémeos: nasceram e cresceram juntos.
Mas o capitalismo não depende apenas do estado de direito, também se apoia numa ética individual, ou o que Weber também chamou o "dever profissional". É este o "espírito do capitalismo", um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento das sociedades capitalistas. O estilo de vida do capitalismo é norteado por um conjunto de regras e normas e pela responsabilidade individual. É justamente o "espírito" do capitalismo que explica a origem e a expansão do sistema capitalista, e não a origem do capital (a grande crítica que Weber faz a Marx).
O terceiro ponto diz respeito ao que acontece quando o espírito do capitalismo começa a desaparecer e o estado de direito fica fraco. É nessas circunstâncias que a "febre do ganho", a cobiça e a ganância prevalecem. Voltando à crise, ela resulta de lacunas do estado de direito e do progressivo enfraquecimento da ética capitalista. Para a resolver, será necessário melhores regras e melhor fiscalização e reencontrar uma ética individual que se perdeu.
Para concluir, mais uma citação de Weber: "o domínio universal da absoluta falta de escrúpulos própria do egoísmo interesseiro voltado para o ganho constitui, precisamente, uma característica específica de todos os países onde o desenvolvimento capitalista...se manteve atrasado". Não é a economia de mercado, mas a sua ausência, que causa a ganância. E a ganância limita-se com mais e melhor capitalismo.
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