Em 1999, Carlos Costa descobriu que as poupanças de 23 anos - mais de 640 mil euros - tinham desaparecido do banco, em Santo Tirso. Senta-se, todos os dias, à porta do Millennium BCP, onde, em silêncio, clama por justiça.
"Fui para França com 16 anos e lutei para ganhar o máximo de dinheiro possível. Vim para cá, em 1993, comecei a trabalhar por minha conta e, quando precisei do dinheiro para comprar uns terrenos, descobri que a conta estava a zero", contou, ao JN, Carlos Costa. Corria o mês de Março de 1999 e, até hoje, tudo o que se sabe é que todo o dinheiro que o ex-emigrante amealhou durante mais de duas décadas, e que depositou, em 1995, no antigo Banco Pinto & Sotto Mayor - absorvido, em 2000, pelo Millennium BCP -, no âmbito de um "contrato de aplicação financeira em depósitos a prazo poupança emigrante", desapareceu sem deixar rasto.
Carlos Costa tem, porém, outra teoria: "Há 10 anos que estudo a forma como fui tramado e só cheguei a uma conclusão - que o dinheiro continua na instituição bancária". Para o antigo operário da construção civil, esta é a única explicação plausível, dado que, garante, não existe qualquer registo do levantamento dos mais de 640 mil euros que, em 1999, deveriam estar depositados na sua conta.
"Para se liquidar um depósito a prazo, este tem de passar à ordem e alguém tinha de vir levantá-lo. Desafio o banco a mostrar o dia e a hora em que o dinheiro foi levantado", propõe Carlos Costa que, desde o passado dia 3 de Junho, cumpre as manhãs sentado à porta do Millenium BCP de Santo Tirso, na Rua Carneiro Pacheco, até à canícula do meio-dia, com um cartaz ao pescoço onde clama: "Quero o meu dinheiro". "De tarde, pego forças para tornar a vir no dia seguinte", desabafa, inconformado; a expressão a envelhecê-lo mais do que os 56 anos que conta de vida - com apenas 46, o infortúnio levou-o a ceder ao desespero e aos calmantes…
Lamenta que o caso esteja em tribunal há uma década sem que se conheça o paradeiro do dinheiro, apesar de, na altura, o banco ter instaurado um processo-crime a um subgerente sobre quem recaíram suspeitas de falsificação de documentos e desvio de verbas, incluindo as poupanças de Carlos Costa.
O indivíduo foi despedido e terá chegado a cumprir pena de prisão, mas o ex-emigrante jamais veria um cêntimo do valor confiado ao banco. Este, num relatório então enviado à Polícia e ao qual o JN teve acesso, sustenta que o referido funcionário terá "ficcionado operações meramente informáticas de constituição e imediata anulação" de depósitos, entregando sempre ao cliente comprovativos de cada depósito. "A nenhum destes documentos corresponde qualquer entrada de dinheiro ou outros valores no banco", diz, ainda, a instituição, que garantiu ao ex-emigrante que os mesmos são falsos.
"Todos os documentos têm selo branco e não podem ser falsos. E, se são, o banco é responsável", contrapõe Carlos Costa. Questionado pelo JN, o gerente da agência de Santo Tirso disse que o banco não comenta o caso, referindo que o mesmo está nas mãos da Justiça.
1 comentário:
é ... com as integrações das bases de dados dos diversos bancos do grupo pode eventualmente ter sido um erro informático ... há que fazer prova ...
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