A falta de confiança é hoje o diagnóstico mais frequente para a incapacidade de crescimento da economia portuguesa durante os últimos anos. Em tempo de entrada em campanha eleitoral, todos os líderes políticos querem gerar confiança. Tarefa quase impossível, no estado em que está a sociedade.
Em entrevista ao Negócios, nesta edição, uma das responsáveis pelo relatório sobre desenvolvimento das Nações Unidas, a portuguesa Isabel Pereira afirma que "Portugal enfrenta um problema de confiança". Como ilustra ela essa falta de confiança? "Parece-me existir um grande descontentamento com as instituições o que gera algum desalento e frustração", diz.
Eis como uma simples constatação toca na ferida que está cada vez mais aberta em Portugal. As instituições não funcionam, não garantem a cada um de nós, em igualdade, que podemos iniciar um negócio com a certeza de que as regras do jogo do mercado serão cumpridas.
Se nos colocarmos no lugar de um pequeno empresário, com vontade de arriscar mas que não conhece ninguém no Governo ou na administração pública de topo, veremos que a sua vida será tudo menos fácil.
O primeiro embate que sofre é na altura em que tem de cobrar o que lhe devem. Andará anos nos tribunais para garantir que, o que é seu, para as suas mãos regressará.
Ao mesmo tempo enfrenta um rendilhado de regras, boa parte delas irracionais e a maioria pouco ou nada divulgadas.
Repentinamente vê-se nas mãos de funcionários de um instituto ou de uma direcção-geral, sob a ameaça de encerramento do negócio ou pagamento de elevadas multas. Pouco ou nada o ajudam a cumprir as regras. Ou limitam-se a indicar umas empresas que o podem apoiar.
Estas e outras histórias são e serão contadas por uns e outros empresários. Ficará a mensagem para quem quer arriscar: "Vê lá, tem cuidado no que te metes, viste o que aconteceu a fulano, o negócio até corria bem mas não lhe pagaram, o tribunal nunca decidiu nada e teve de fechar as portas a dever dinheiro a outros...".
Ou ainda, "vê lá, não será melhor arranjares um emprego na Câmara ou no Estado, tens um amigo que te pode meter lá... lembras-te do que aconteceu a fulano, foi lá o instituto não sei quantos e aplicaram-lhe uma multa que teve de fechar as portas ...ainda hoje anda pelos tribunais".
E há ainda as histórias que vão passando de boca a ouvido dos casos de corrupção, fraudes e outros crimes envolvendo figuras mediáticas e que ficam sem castigo.
A falta de confiança tem as suas raízes no caos e opacidade das regras do jogo dos negócios e na incapacidade do regime fazer cumprir a mais simples das leis, que é obrigar quem deve a pagar.
Não se consegue gerar confiança com discursos ou com imagens mais sérias e credíveis. Não hoje, depois da sociedade portuguesa estar infectada com tantas histórias de fracasso gerado pelo mau funcionamento das instituições.
A confiança, como dizem Akerloff e Shiller, gera-se pela confiança que vemos nos outros. E hoje é quase nenhuma a confiança que percebemos na nossa rede social.
Obs:
Veja-se por exemplo o "CASO BCP" que desgraçou milhares de famílias portuguesas...
Em entrevista ao Negócios, nesta edição, uma das responsáveis pelo relatório sobre desenvolvimento das Nações Unidas, a portuguesa Isabel Pereira afirma que "Portugal enfrenta um problema de confiança". Como ilustra ela essa falta de confiança? "Parece-me existir um grande descontentamento com as instituições o que gera algum desalento e frustração", diz.
Eis como uma simples constatação toca na ferida que está cada vez mais aberta em Portugal. As instituições não funcionam, não garantem a cada um de nós, em igualdade, que podemos iniciar um negócio com a certeza de que as regras do jogo do mercado serão cumpridas.
Se nos colocarmos no lugar de um pequeno empresário, com vontade de arriscar mas que não conhece ninguém no Governo ou na administração pública de topo, veremos que a sua vida será tudo menos fácil.
O primeiro embate que sofre é na altura em que tem de cobrar o que lhe devem. Andará anos nos tribunais para garantir que, o que é seu, para as suas mãos regressará.
Ao mesmo tempo enfrenta um rendilhado de regras, boa parte delas irracionais e a maioria pouco ou nada divulgadas.
Repentinamente vê-se nas mãos de funcionários de um instituto ou de uma direcção-geral, sob a ameaça de encerramento do negócio ou pagamento de elevadas multas. Pouco ou nada o ajudam a cumprir as regras. Ou limitam-se a indicar umas empresas que o podem apoiar.
Estas e outras histórias são e serão contadas por uns e outros empresários. Ficará a mensagem para quem quer arriscar: "Vê lá, tem cuidado no que te metes, viste o que aconteceu a fulano, o negócio até corria bem mas não lhe pagaram, o tribunal nunca decidiu nada e teve de fechar as portas a dever dinheiro a outros...".
Ou ainda, "vê lá, não será melhor arranjares um emprego na Câmara ou no Estado, tens um amigo que te pode meter lá... lembras-te do que aconteceu a fulano, foi lá o instituto não sei quantos e aplicaram-lhe uma multa que teve de fechar as portas ...ainda hoje anda pelos tribunais".
E há ainda as histórias que vão passando de boca a ouvido dos casos de corrupção, fraudes e outros crimes envolvendo figuras mediáticas e que ficam sem castigo.
A falta de confiança tem as suas raízes no caos e opacidade das regras do jogo dos negócios e na incapacidade do regime fazer cumprir a mais simples das leis, que é obrigar quem deve a pagar.
Não se consegue gerar confiança com discursos ou com imagens mais sérias e credíveis. Não hoje, depois da sociedade portuguesa estar infectada com tantas histórias de fracasso gerado pelo mau funcionamento das instituições.
A confiança, como dizem Akerloff e Shiller, gera-se pela confiança que vemos nos outros. E hoje é quase nenhuma a confiança que percebemos na nossa rede social.
Obs:
Veja-se por exemplo o "CASO BCP" que desgraçou milhares de famílias portuguesas...
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