As quedas nos mercados de acções podem parecer mais ou menos violentas, de acordo com o ponto de vista de observação do fenómeno. Falar, sem mais, numa descida de 50% pode ser o bastante para deixar espantados e receosos os mais intrépidos...
As quedas nos mercados de acções podem parecer mais ou menos violentas, de acordo com o ponto de vista de observação do fenómeno. Falar, sem mais, numa descida de 50% pode ser o bastante para deixar espantados e receosos os mais intrépidos investidores. O número, só por si, é impressionante, caso se pense que quem sofra uma deterioração daquela amplitude na sua carteira de investimentos terá "perdido" metade do património.
Há outra conta que se pode juntar a esta. Permite colocar no devido contexto os movimentos de recuperação nas cotações que se seguem a fases de descida de grande amplitude. Uma desvalorização média de 50% necessitará de ser seguida de uma subida de 100% só para que o mercado consiga regressar ao nível anterior àquela queda.
A recente retoma das acções, sustentada por notícias na frente macro-económica e nas contas das empresas mais positivas do que aquelas que se chegaram a temer, está a lançar as raízes para um ambiente de maior confiança nas bolsas. Mas o ganho de 15% já alcançado pelo PSI 20, principal índice da praça lisboeta, representa ainda um progresso curto para um mercado que, em 2008, fechou o exercício com uma descida superior a 51%. Ou seja, Lisboa está a um pouco mais de 85 pontos percentuais do nível em que se situava quando o ano passado, histórico na vida dos mercados financeiros, estava ainda a arrancar.
Há razões para acreditar que o pior já terá passado, mas convém manter os pés assentes na terra. É isso que parecem fazer alguns dos gestores que são citados pela revista "Smart Money", elementos daquele pequeno grupo de responsáveis pela gestão do dinheiro dos outros que foram criticados e até perderam clientes por, antes de a tempestade se abater nas bolsas, terem decidido converter aplicações em acções em obrigações e liquidez. Uma leitura pelo artigo em que aquela publicação promete revelar o que dizem actualmente quatro "gurus" do investimento, não deixa dúvidas.
O tom geral é de prudência. Robert Rodriguez, por exemplo, descarta uma recuperação rápida da economia global, diz que a subida actual não é consistente e acredita que, num prazo de cinco anos, o petróleo vai regressar aos 150 dólares, no que constituirá mais um obstáculo à aceleração do crescimento. Joel Tillinghast, que se concentra em pequenas e médias capitalizações, diz que serão necessárias mais certezas sobre a solidez da retoma na economia chinesa. Anne Gudefin considera que não terá visto os mercados baterem no fundo, enquanto não assistir a uma retoma mais substancial das empresas com capitalizações bolsistas mais elevadas. Bill Gross é mais dramático: "os próximos quatro a 12 anos não vão ser amigos dos investidores" e "quando a crise de curto prazo estiver terminada, teremos uma inflação elevada".
As rentabilidades passadas não são garantia de obtenção de retornos futuros. Do mesmo modo, a visão correcta com que estes quatro gestores de fundos decidiram afastar-se das acções antes de a crise rebentar não prova que desta vez também terão razão. Mas há uma lição de prudência a retirar das suas análises e uma razoável certeza de que será necessário muito tempo apenas para recuperar o que ficou perdido entre a tempestade quase perfeita de 2008.
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