Yuriko Nakao/Reuters (arquivo) |
Kaoru Yosano diz que é cedo para falar de deflação |
A taxa de desemprego no Japão registou entre Fevereiro e março a maior subida desde 1967. Em Março os preços registaram uma queda de 0,1 por cento face a igual período do ano passado.
Os dados divulgados na quinta-feira sobre a evolução da produção industrial no Japão afastaram algumas das nuvens negras que se têm mantido sobre a segunda maior economia do mundo. Os próprios analistas ficaram surpreendidos com a subida de 1,6 por cento registada na produção industrial em Março, até porque era a primeira subida em seis meses.
Mas bastaram menos de 24 horas para que as nuvens negras regressassem, tal como o fantasma da deflação, que fustigou a economia na década de 90, e o cada vez mais provável cenário de uma recuperação lenta e penosa.
Os dados divulgados hoje mostram que em Março a variação dos preços no Japão registou uma quebra de 0,1 por cento face a igual período do ano passado. Ou seja, começa a confirmar-se a previsão feita pelo próprio banco central de que em 2009 e 2010 o Japão terá de se confrontar novamente com uma situação de deflação, sendo que no conjunto deste ano os preços deverão recuar 1,5 por cento. Até porque segundo os indicadores disponibilizados, a despesa feita pelas famílias japonesas caiu em Março para o valor mais baixo dos últimos 13 meses, aumentando a pressão para que as empresas ainda reduzam mais os preços dos seus produtos de forma a conseguirem escoar os seus stocks.
As notícias negativas não se ficaram, no entanto, pelos números da inflação. Os dados divulgados também hoje sobre a evolução do desemprego mostram a actual debilidade da economia nipónica. A taxa de desemprego em Março fixou-se nos 4,8 por cento depois dos 4,4 por cento de Fevereiro. Esta subida é a maior desde 1967 e o valor de Março já corresponde ao mais alto dos últimos quatro anos, assinalava hoje a Bloomberg. Ao mesmo tempo, o número de empregos disponíveis desceu para o valor mais baixo dos últimos sete anos. Tudo somado, desde Março de 2008 há mais 670 mil japoneses sem emprego.
“O ambiente económico para as famílias é muito duro”, salientou em Tóquio, Tatsushi Shikano, citado pela Bloomberg. Para o economista chefe do Mitsubishi UFJ Securities Co., estes dados também mostram que não serão os consumidores a dar o ‘empurrão’ que a economia nipónica necessita, pelo que a “recuperação deverá ser lenta”, concluiu este especialista. Já Seiji Adachi, economista do Deutsche Securities Inc., parece não ter dúvidas e sublinhou que "com o agravamento do emprego e dos salários, não existem soluções a curto prazo para evitar a deflação". Opinião diferente tem, no entanto, o ministro das Finanças, Kaoru Yosano. Citado pela Bloomberg, este responsável assegurou que “é muito cedo para concluir que o Japão está a caminho de uma situação de deflação." Também o governador do Banco do Japão garantiu “que há pouco risco de uma espiral deflacionista, mesmo após a sua administração ter previsto que os preços irão cair 1,5 por cento este ano fiscal e 1 por cento no ano com início de Abril de 2010. Recorde-se que o banco central japonês cortou principal taxa de juro para 0,1 por cento em Dezembro, e, desde então, começou a comprar dívida das empresas de forma a permitir que estas se tenham acesso a ‘dinheiro fresco’.
Independentemente das certezas sobre se o Japão já está, ou não, numa espiral deflacionista, hoje os mercados já penalizaram a sua moeda face aos novos dados económicos. O Yen, pelo terceiro dia consecutivo estava a cair tanto para o dólar como para o euro. A queda de hoje atingiu os 0,8 por cento deixando o Yen no valor mais baixo das duas últimas semanas.
Todos estes números vêem confirmar as previsões feitas pelo Banco do Japão na quinta-feira, quando reviu em baixa a sua previsão de crescimento económico de uma contracção de 2 por cento para 3,1 por cento no ano que termina em Março de 2010. Para o ano que termina em Março de 2011, o banco central prevê que a economia cresça 1,2 por cento.
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