A economia está a vingar-se do sistema financeiro pagando na mesma moeda: agravando-lhe os problemas. O Banco de Portugal chama-lhe agora "espiral descendente", mais fácil de explicar do que de resolver. Como fazer o curto-circuito?
Crise com crise se paga. Também se lhe podia chamar "efeito bola de neve" ou, como o símbolo do infinito, uma cobra que engole a cauda: o colapso do sistema financeiro contagiou dramaticamente a economia, que, entrando em recessão, devolve agora pouco negócio e muito malparado aos bancos; estes, ao contrário, precisam de capital, que está escasso e encarecido pelos maus "ratings" dos Estados que se endividaram... para acudir à economia e ao sistema financeiro.
Como mostra o relatório do Banco de Portugal de ontem, é a rentabilidade dos capitais dos bancos que se deteriora; e é o crédito malparado que dispara, sendo legítimo esperar um agravamento grande nos próximos meses, não tanto das famílias, mas sobretudo das empresas. Todas as estatísticas, incluindo as incontestadas, revelam níveis de desemprego e de falta de encomendas à indústria que ainda não produziram os últimos efeitos nas tesourarias. Isto será mais visível no Interior e no Norte do País, que deixou de ter Espanha a comprar os materiais de construção e os equipamentos que lhe viabilizavam as empresas. Mesmo que a Cosec passe a assumir o risco de clientes estrangeiros, por exemplo nos mercados de Leste, a substituição das vendas não é certa nem rápida.
As famílias já inverteram no final de 2008 o seu comportamento de endividamento compulsivo. Pela primeira vez desde pelo menos 1995, os depósitos bancários cresceram mais do que os créditos; a poupança subiu (o que nem na crise de 2003 tinha acontecido); e as suas dívidas somadas representam agora ligeiramente menos do que vale o PIB. Mas não é assim nas empresas, onde as dívidas representam 140% do PIB e não estão a reduzir-se. Não é por pulsão suicida, é porque não basta querer. Para amortizar capital em dívida é preciso... capital. A reestruturação nas empresas demora a produzir resultados como virar o leme de um porta-aviões.
A vida financeira de Portugal está a mudar e, apesar da medalha de bom comportamento dos bancos em Portugal face ao descalabro dos activos tóxicos (de que é vítima mas não culpada), os balanços vão ressentir-se durante longos anos. Quem olha para a bolsa e vê as suas acções finalmente a subir, vê nisso bom presságio: e é. É sobretudo a constatação de que a fase da angústia colectiva acabou. Mas enquanto nos mercados financeiros se discute se estamos a fazer uma recuperação em "V" ou uma lomba num "W", quem gere bancos está a torcer para que o seu negócio esteja num "U" de recuperação lenta mas não num "L" de estagnação longa.
Não é por acaso que, nos títulos das mais de trinta mil notícias que o Negócios publicou nos últimos doze meses - celebradas nesta edição de Sexto Aniversário - as três palavras mais reincidentes tenham sido "Bolsa", "Banca" e "Queda". Não é premoção nem promoção, mas revelador da espiral. Houve um tempo em que, como escreveu Pessoa, "no comboio descendente, vinha tudo à gargalhada". Agora já não é assim: todos os bancos estão fragilizados e vulneráveis. Mas já ninguém se ri. E assim se muda de vida.
Crise com crise se paga. Também se lhe podia chamar "efeito bola de neve" ou, como o símbolo do infinito, uma cobra que engole a cauda: o colapso do sistema financeiro contagiou dramaticamente a economia, que, entrando em recessão, devolve agora pouco negócio e muito malparado aos bancos; estes, ao contrário, precisam de capital, que está escasso e encarecido pelos maus "ratings" dos Estados que se endividaram... para acudir à economia e ao sistema financeiro.
Como mostra o relatório do Banco de Portugal de ontem, é a rentabilidade dos capitais dos bancos que se deteriora; e é o crédito malparado que dispara, sendo legítimo esperar um agravamento grande nos próximos meses, não tanto das famílias, mas sobretudo das empresas. Todas as estatísticas, incluindo as incontestadas, revelam níveis de desemprego e de falta de encomendas à indústria que ainda não produziram os últimos efeitos nas tesourarias. Isto será mais visível no Interior e no Norte do País, que deixou de ter Espanha a comprar os materiais de construção e os equipamentos que lhe viabilizavam as empresas. Mesmo que a Cosec passe a assumir o risco de clientes estrangeiros, por exemplo nos mercados de Leste, a substituição das vendas não é certa nem rápida.
As famílias já inverteram no final de 2008 o seu comportamento de endividamento compulsivo. Pela primeira vez desde pelo menos 1995, os depósitos bancários cresceram mais do que os créditos; a poupança subiu (o que nem na crise de 2003 tinha acontecido); e as suas dívidas somadas representam agora ligeiramente menos do que vale o PIB. Mas não é assim nas empresas, onde as dívidas representam 140% do PIB e não estão a reduzir-se. Não é por pulsão suicida, é porque não basta querer. Para amortizar capital em dívida é preciso... capital. A reestruturação nas empresas demora a produzir resultados como virar o leme de um porta-aviões.
A vida financeira de Portugal está a mudar e, apesar da medalha de bom comportamento dos bancos em Portugal face ao descalabro dos activos tóxicos (de que é vítima mas não culpada), os balanços vão ressentir-se durante longos anos. Quem olha para a bolsa e vê as suas acções finalmente a subir, vê nisso bom presságio: e é. É sobretudo a constatação de que a fase da angústia colectiva acabou. Mas enquanto nos mercados financeiros se discute se estamos a fazer uma recuperação em "V" ou uma lomba num "W", quem gere bancos está a torcer para que o seu negócio esteja num "U" de recuperação lenta mas não num "L" de estagnação longa.
Não é por acaso que, nos títulos das mais de trinta mil notícias que o Negócios publicou nos últimos doze meses - celebradas nesta edição de Sexto Aniversário - as três palavras mais reincidentes tenham sido "Bolsa", "Banca" e "Queda". Não é premoção nem promoção, mas revelador da espiral. Houve um tempo em que, como escreveu Pessoa, "no comboio descendente, vinha tudo à gargalhada". Agora já não é assim: todos os bancos estão fragilizados e vulneráveis. Mas já ninguém se ri. E assim se muda de vida.
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