Colapso de bancos nos Estados Unidos e na Europa pôs a nu fragilidades e excessos do sistema financeiro...
Fortis. Uma das maiores instituições financeiras mundiais, em 20.º lugar na lista de maiores bancos elaborada pela revista "Forbes", com implantação sobretudo nos países do Benelux - Bélgica, Holanda e Luxemburgo. No ano passado, teve lucros de quatro mil milhões de euros.
Dexia, outro gigante do sistema financeiro, de origem franco-belga. No ano passado, gerou um resultado líquido atribuível aos accionistas de 2,5 mil milhões de euros. Bradford & Bingley, um banco mais singelo: em 2007, "só" conseguiu 119 milhões de euros de lucro, de acordo com o último relatório de contas.
Dexia, outro gigante do sistema financeiro, de origem franco-belga. No ano passado, gerou um resultado líquido atribuível aos accionistas de 2,5 mil milhões de euros. Bradford & Bingley, um banco mais singelo: em 2007, "só" conseguiu 119 milhões de euros de lucro, de acordo com o último relatório de contas.
Além de terem pago dividendos milionários, estes três bancos têm outro factor em comum: na semana passada, foram nacionalizados - total ou parcialmente - para evitar que fossem à falência. Não é que os lucros sejam os únicos indicadores da saúde financeira de uma empresa, longe disso.
Mas a forma como as fragilidades do sistema bancário são expostas de forma tão rápida, obrigando os governos a intervirem para que os bancos tenham capital suficiente para continuar a exercer actividade, dá que pensar. Afinal, onde está o dinheiro? Como é que instituições aparentemente tão sólidas podem, de um ano para o outro, entrar em colapso?
A importação do "subprime" norte-americano e o carácter cíclico das crises são parte da resposta mas foram revelados excessos que poderão servir de lição. As constantes injecções de dinheiro do Banco Central Europeu também não têm sido suficientes para contornar as dificuldades do sistema bancário em conseguir financiamento e ouvem-se vozes contra a orientação seguida nas taxas de juro. Mas o próprio banco central tem um poder limitado, perante problemas de insolvência.
A importação do "subprime" norte-americano e o carácter cíclico das crises são parte da resposta mas foram revelados excessos que poderão servir de lição. As constantes injecções de dinheiro do Banco Central Europeu também não têm sido suficientes para contornar as dificuldades do sistema bancário em conseguir financiamento e ouvem-se vozes contra a orientação seguida nas taxas de juro. Mas o próprio banco central tem um poder limitado, perante problemas de insolvência.
"Turbulência financeira paga em juros"
Como o mau funcionamento do sistema bancário atinge a economia real e faz com que instituições de peso caiam como baralhos de cartas Os criminosos que optam pela especialidade de assaltos a bancos conhecem desde cedo uma dura realidade: os bancos não têm quantidades astronómicas de dinheiro em sua posse. Não era por acaso que "El Solitário" continuava a trabalhar mesmo depois de fazer dezenas de assaltos. As instituições financeiras usam grande parte das verbas que captam para investir ou emprestar a terceiros; apenas uma pequena parte do que recebem fica realmente à sua guarda. Para financiar este modelo de negócio, recorrem permanentemente a empréstimos de outros bancos. Só no espaço europeu, há mais de oito mil instituições bancárias a transaccionar diariamente elevados montantes entre si.
"Com a crise, esta rede foi posta em xeque"
"O pilar do sistema financeiro é a confiança. Quando se gera incerteza sobre o valor real de um título e sobre quem o detém, como aconteceu com os produtos financeiros derivados do "subprime", há um efeito de contágio: toda a carteira de quem detém esses títulos tóxicos passa a estar também sob desconfiança. Estas crises são altamente contagiosas e funcionam como um baralho de cartas", explica Aurora Teixeira, docente na Faculdadede Economia da Universidade do Porto. Com mais risco no sistema, os bancos sobem os juros, as famosas Euribor. Com juros mais altos, a liquidez - a facilidade com que se fazem transacções - é afectada. O dinheiro continua "por aí" mas circula muito mais devagar.
"Dificuldades acrescidas para bancos menos prudentes"
Num cenário destes, os bancos menos prudentes na constituição de capital próprio enfrentam dificuldades acrescidas. Em última análise, as instituições que faliram ou foram salvas antes de colapsar, nos últimos tempos, tinham como denominador comum o facto de não terem conseguido reter financiamento e por isso terem entrado numa situação de insolvência. "As pessoas querem fazer poupanças e ganhar juros, outras pessoas querem pedir emprestado para financiar casas e negócios; mas o sistema bancário não consegue fazer o seu trabalho de intermediário", sintetizava esta semana John Cochrane, professor de finanças da Universidade de Chicago, num blogue do "New York Times".
Aqui entram os bancos centrais, que tentam aumentar a liquidez, mas têm margem de manobra reduzida. As taxas de juro dos bancos comerciais estão a reflectir sobretudo o risco do sistema e não as taxas directoras do Banco Central Europeu, pelo que uma descida de juros poderia não reflectir-se totalmente nas taxas de mercado e tornaria a economia mais exposta à inflação. O mesmo acontece com as injecções de liquidez no sistema. Pôr mais notas e moedas em circulação para recapitalizar os bancos acode as necessidades de curto prazo dos bancos mas desvaloriza a moeda, gerando inflação. Políticas monetárias menos rigorosas podem tentar enfrentar dificuldades emitindo constantemente moeda. O Brasil gostou dessa ideia, nos anos oitenta e noventa, e conseguiu o feito de atingir taxas de inflação de três dígitos.
A actuação dos bancos centrais está acima de tudo limitada pela génese dos problemas sentidos nas instituições financeiras. Nuno Valério, catedrático em História da Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão, entende que "há um problema de falta de liquidez mas também de falta de solvabilidade. Para muitos produtos derivados, que estão na base desta crise, a perda de valor foi definitiva" e não há injecção de liquidez do BCE que lhe valha.
O académico sublinha que a especulação nos mercados financeiros, ao longo do tempo, "nunca pode ser benéfica para todos". "É inevitável que alguém acabe por perder", sustenta. Nuno Valério considera que a perda de capital no final do ciclo "tem de acontecer", mas que se "pode evitar que haja repercussões em larga escala, com desemprego e miséria" e é nesse sentido que Europa e Estados Unidos estão a actuar, embora de formas diferentes. Não fazer nada, numa crise sistémica, seria a pior das soluções. Os depositantes ficariam sem o dinheiro, as empresas teriam ainda mais dificuldades em financiar-se, haveria efeitos drásticos no crescimento económico.
Aqui entram os bancos centrais, que tentam aumentar a liquidez, mas têm margem de manobra reduzida. As taxas de juro dos bancos comerciais estão a reflectir sobretudo o risco do sistema e não as taxas directoras do Banco Central Europeu, pelo que uma descida de juros poderia não reflectir-se totalmente nas taxas de mercado e tornaria a economia mais exposta à inflação. O mesmo acontece com as injecções de liquidez no sistema. Pôr mais notas e moedas em circulação para recapitalizar os bancos acode as necessidades de curto prazo dos bancos mas desvaloriza a moeda, gerando inflação. Políticas monetárias menos rigorosas podem tentar enfrentar dificuldades emitindo constantemente moeda. O Brasil gostou dessa ideia, nos anos oitenta e noventa, e conseguiu o feito de atingir taxas de inflação de três dígitos.
A actuação dos bancos centrais está acima de tudo limitada pela génese dos problemas sentidos nas instituições financeiras. Nuno Valério, catedrático em História da Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão, entende que "há um problema de falta de liquidez mas também de falta de solvabilidade. Para muitos produtos derivados, que estão na base desta crise, a perda de valor foi definitiva" e não há injecção de liquidez do BCE que lhe valha.
O académico sublinha que a especulação nos mercados financeiros, ao longo do tempo, "nunca pode ser benéfica para todos". "É inevitável que alguém acabe por perder", sustenta. Nuno Valério considera que a perda de capital no final do ciclo "tem de acontecer", mas que se "pode evitar que haja repercussões em larga escala, com desemprego e miséria" e é nesse sentido que Europa e Estados Unidos estão a actuar, embora de formas diferentes. Não fazer nada, numa crise sistémica, seria a pior das soluções. Os depositantes ficariam sem o dinheiro, as empresas teriam ainda mais dificuldades em financiar-se, haveria efeitos drásticos no crescimento económico.
"Não há almoços grátis"
Os economistas inventaram uma frase para ilustrar os permanentes fenómenos de compensação nos mercados: "Não há almoços grátis". Um excesso aqui paga-se com um défice ali. Na crise que atravessa o Mundo, o princípio. Há perdas imensas na bolsa e bancos entram em colapso, mas isso acontece depois de anos sucessivos de lucros no sistema financeiro. Além de mostrar as fragilidades do sistema financeiro, o "subprime" veio também evidenciar os efeitos perniciosos que algumas ferramentas financeiras podem ter. Entre elas, a alavancagem, um procedimento em que, através de dinheiro "emprestado", se maximiza a possibilidade de obter lucros mas também a de cair em perdas. Também as "stock options" dos administradores das empresas, que pressionam os gestores a obter resultados financeiros para beneficiarem da subida da cotação das acções.
Na bolsa, deram nomes aos ciclos financeiros. Chamam-lhe "Bull Market", quando o mercado se assemelha a um animal furioso por lucros, e "Bear Market", quando a festa acaba, se fazem contas à vida, e hibernação é o caminho. No final, quem fica com a batata quente é quem paga a conta, tal como aconteceu com os títulos "subprime". Tão importante como saber investir é saber quando desinvestir. Axel Miller, o presidente do Dexia, viu o seu salário aumentado em 9% em 2007, para 1,9 milhões de euros, fora outras regalias. No Fortis, as remunerações da equipa de gestão aumentaram 6%, para 10,9 milhões de euros, nesse ano. No Bradford & Bingley, os administradores foram aumentados 27% num exercício em que os lucros desceram 48%. Onde pára o dinheiro? É perguntar aos gestores dos bancos onde puseram o dinheiro que receberam, um ano antes da insolvência das empresas que geriam...
Na bolsa, deram nomes aos ciclos financeiros. Chamam-lhe "Bull Market", quando o mercado se assemelha a um animal furioso por lucros, e "Bear Market", quando a festa acaba, se fazem contas à vida, e hibernação é o caminho. No final, quem fica com a batata quente é quem paga a conta, tal como aconteceu com os títulos "subprime". Tão importante como saber investir é saber quando desinvestir. Axel Miller, o presidente do Dexia, viu o seu salário aumentado em 9% em 2007, para 1,9 milhões de euros, fora outras regalias. No Fortis, as remunerações da equipa de gestão aumentaram 6%, para 10,9 milhões de euros, nesse ano. No Bradford & Bingley, os administradores foram aumentados 27% num exercício em que os lucros desceram 48%. Onde pára o dinheiro? É perguntar aos gestores dos bancos onde puseram o dinheiro que receberam, um ano antes da insolvência das empresas que geriam...
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