Gente: o boato é falso. Vá à janela, espreite para a rua e veja a porta do BCP aberta. É segunda-feira e Nostradamus falhou outra vez a previsão do fim-do-mundo. A banca está sã e salva? Salva está, sã é que não.
O boato sobre a alegada falência do BCP teve segunda vida nas últimas semanas (a primeira foi em 2008), começou no Norte e multiplicou-se da tal forma na sexta-feira que se fez o que nunca se faz: desmentir um boato é amplificá-lo. Até o Governo falou disso sem falar e o Negócios sabe que há preocupações no Executivo quanto à propagação oportunística deste tipo de rumores, que podem metastizar-se nas próximas semanas.
Este boato, que assegurava que o BCP seria intervencionado este fim-de-semana (as intervenções são sempre ao fim-de-semana...) e hoje já não abriria as portas, foi aceite até por gente informada e influente, após um vírus galopante na Internet. Depois do "spam" e do "phishing", o "hoax": histórias falsas na rede.
Sucede que este boato foi difundido aparentemente de modo profissional, a partir de números telefónicos que não existem e de servidores "offshore". Quer uma teoria da conspiração? Escolha você mesmo: é fácil encontrar gente que teria a ganhar com a queda do BCP... Dos "short sellers" a clientes e investidores a contas com o banco, passando pelas bruxas caçadas nos últimos anos, até concorrentes portugueses que precisam de despistar atenções e estrangeiros que andam a abrir contas para portugueses... O problema é que o boato pode provocar o que preconiza. Se os clientes lhe derem credibilidade, acorrem aos levantamentos e a isso nenhum banco resiste.
Mas há outra razão para o boato se ter tornado credível: o medo. Nos últimos anos, aprendemos que os bancos são cavalos que também se abatem. "Quem tem medo não faz outra coisa a não ser sentir rumores", escreveu Acrisio. Qualquer dia batemos contra a parede, verbalizou Fernando Ulrich.
O boato é falso mas o contexto é pois verdadeiro. Como disse Paulo Pinho no "Expresso", até os bancos estão com medo da sombra. É por isso que não emprestam dinheiro uns aos outros. O que não é um problema nem do BCP nem português, mas europeu. Por isso os "testes de stress" podem ser importantes: ao exporem as contas dos bancos à simulação de situações extremas, teremos atestados de viabilidade ou de falta dela. Desde que os testes sejam exigentes. Até à sua divulgação, no dia 23, podemos esperar mais rumores. Veremos o que faz o Banco de Portugal; veremos se tem credibilidade para ser ouvido. Se falar...
Há falta de liquidez na banca europeia, que vai precisar mais capital. O processo de "desendividamento" da economia mal começou, mas muitas empresas já têm linhas de crédito fechadas. Não é por acaso que dois bancos disseram não à Estradas de Portugal. Não é um problema da EP, é um problema da banca. Nem é por acaso que o BES votou a favor da venda da Vivo - adivinhe em que banco seriam depositados aqueles 7,15 mil milhões de euros...
O Banco Central Europeu é o salvador. Está a emprestar dinheiro à banca, sem o qual a economia estaria congelada há meses. Os próximos meses vão ser muito difíceis para a banca e para quem precisa de crédito. O "risco sistémico" continua a ser a garantia de que um banco relevante não cairá. Mesmo quando a nova vaga desta crise financeira infernal chegasse. Ei-la. Só há uma forma de combater o medo e o boato: com informação. Lembra-se? A Gripe A não foi assim há tanto tempo...
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