Pedro Santos Guerreiro
Quem manda nas empresas que terão tido funcionários e administradores que delas se serviram? Quem manda nos concursos lançados e contratos assinados? Quem manda corromper quem quer ser corrompido? Quem manda neste sistema de Justiça, que expõe os seus suspeitos?
A Polícia Judiciária escolheu um nome apropriado para a operação: "Face Oculta". São ocultos os seus mandantes e os seus tratantes. Estes não são crimes de presidentes à procura de prémios ou de accionistas a empolar lucros. As empresas são grandes mas os estupores são pequenos. Eis uma história de muitos pequenos corrompidos e de poucos grandes corruptores. E da eterna náusea de financiamento partidário pelo meio.
Galp, EDP, BCP, REN, CP, Refer são das maiores empresas portuguesas, cotadas com milhares de investidores ou estatizadas com milhões de accionistas. Mas não são elas as beneficiárias dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais, associação criminosa, tráfico de influências e peculato de que se suspeita. Pelo contrário, elas foram, se as suspeitas se confirmarem, prejudicadas, com maus negócios aprovados por alguém da cadeia hierárquica.
Uma cadeia é tão forte quanto o seu elo mais fraco. E todos os códigos de ética, manuais de conduta ou leis nacionais valem o mesmo que as suas lacunas e ambiguidades. O mundo está cheio de escroques. Portugal está cheio de escroques com poder. Mesmo que um pequeno e lucrativo poder.
Uma empresa grande é um ninho de potencial desgovernação. Quem controla os concursos lançados? Quem garante que não são feitos à medida? Quem está na cancela da rua contando o número de toneladas de sucata que saem?
Em muitas destas empresas os seus presidentes não são cegos, mas impotentes. Conhecem as pequenas máfias instaladas, sabem quem as comanda, mas não conseguindo prová-las, não as desalojam. Há até casos em que foram obrigados a reintegrá-las por ordem dos tribunais.
Este é o retrato de um país habitado por "senhores 10%", que recebem a comissãozinha por fechar os olhos, passar o papel para o fundo da pilha, mudar a vírgula. Um intestino pútrido de gente que se vende por vinte tostões com a prévia desculpa de que toda a gente assim faz.
O processo "Face Oculta" vai fazer correr muita tinta. Teófilo Santiago, o responsável da PJ, e João Marques Vidal, o procurado, têm reputação de rigorosos e implacáveis. E este processo já mostrou que não é verdade que o PS controle a justiça.
É um caso de crimes de sargentos mas também há generais. Paulo Penedos, arguido, não é um deles mas o seu pai, José Penedos, já foi envolvido, a semanas de terminar o seu mandato na REN, cuja renovação pode ficar comprometida. Mas o peixe mais graúdo nesta rede é Armando Vara, vice-presidente do BCP, qualificado no mandado como "pessoa influente em empresas com participações do Estado".
Armando Vara é inocente até prova em contrário. Mas o BCP, que anda a limpar o seu passado, a negociar indemnizações com aqueles que prejudicou e a separar o passado do futuro, não suporta mais um escândalo. No Natal de 2007, quando se soube da nova administração do BCP, aqui escrevi: "Leiam estas linhas: Santos Ferreira pode fazer parte da solução do BCP mas Armando Vara representa um novo problema." Vara devia suspender o seu mandato na administração do BCP. Mesmo, ou sobretudo, se se diz inocente: o interesse do banco é superior ao seu.
A Polícia Judiciária escolheu um nome apropriado para a operação: "Face Oculta". São ocultos os seus mandantes e os seus tratantes. Estes não são crimes de presidentes à procura de prémios ou de accionistas a empolar lucros. As empresas são grandes mas os estupores são pequenos. Eis uma história de muitos pequenos corrompidos e de poucos grandes corruptores. E da eterna náusea de financiamento partidário pelo meio.
Galp, EDP, BCP, REN, CP, Refer são das maiores empresas portuguesas, cotadas com milhares de investidores ou estatizadas com milhões de accionistas. Mas não são elas as beneficiárias dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais, associação criminosa, tráfico de influências e peculato de que se suspeita. Pelo contrário, elas foram, se as suspeitas se confirmarem, prejudicadas, com maus negócios aprovados por alguém da cadeia hierárquica.
Uma cadeia é tão forte quanto o seu elo mais fraco. E todos os códigos de ética, manuais de conduta ou leis nacionais valem o mesmo que as suas lacunas e ambiguidades. O mundo está cheio de escroques. Portugal está cheio de escroques com poder. Mesmo que um pequeno e lucrativo poder.
Uma empresa grande é um ninho de potencial desgovernação. Quem controla os concursos lançados? Quem garante que não são feitos à medida? Quem está na cancela da rua contando o número de toneladas de sucata que saem?
Em muitas destas empresas os seus presidentes não são cegos, mas impotentes. Conhecem as pequenas máfias instaladas, sabem quem as comanda, mas não conseguindo prová-las, não as desalojam. Há até casos em que foram obrigados a reintegrá-las por ordem dos tribunais.
Este é o retrato de um país habitado por "senhores 10%", que recebem a comissãozinha por fechar os olhos, passar o papel para o fundo da pilha, mudar a vírgula. Um intestino pútrido de gente que se vende por vinte tostões com a prévia desculpa de que toda a gente assim faz.
O processo "Face Oculta" vai fazer correr muita tinta. Teófilo Santiago, o responsável da PJ, e João Marques Vidal, o procurado, têm reputação de rigorosos e implacáveis. E este processo já mostrou que não é verdade que o PS controle a justiça.
É um caso de crimes de sargentos mas também há generais. Paulo Penedos, arguido, não é um deles mas o seu pai, José Penedos, já foi envolvido, a semanas de terminar o seu mandato na REN, cuja renovação pode ficar comprometida. Mas o peixe mais graúdo nesta rede é Armando Vara, vice-presidente do BCP, qualificado no mandado como "pessoa influente em empresas com participações do Estado".
Armando Vara é inocente até prova em contrário. Mas o BCP, que anda a limpar o seu passado, a negociar indemnizações com aqueles que prejudicou e a separar o passado do futuro, não suporta mais um escândalo. No Natal de 2007, quando se soube da nova administração do BCP, aqui escrevi: "Leiam estas linhas: Santos Ferreira pode fazer parte da solução do BCP mas Armando Vara representa um novo problema." Vara devia suspender o seu mandato na administração do BCP. Mesmo, ou sobretudo, se se diz inocente: o interesse do banco é superior ao seu.
1 comentário:
Tens razão...
Os criminosos são quem mais governam...
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