O BCP recorreu à janela de crédito do Banco Central Europeu.
Desde que implodiu a crise ‘subprime’ muitos bancos têm recorrido a esta bóia para resolver as suas necessidades de liquidez. Não são apenas as pessoas que recorrem ao crédito, as instituições financeiras também o têm de fazer para concretizar as suas operações quotidianas. É assim que o sistema funciona. É assim que ele se equilibra e alimenta.
Nos dias que correm há, no entanto, uma diferença importante. Hoje, a desconfiança no mercado atingiu níveis preocupantes. Há muitos rumores à solta. Ninguém sabe bem quem tem ou não tem problemas de solvência. Quem aguentará a tempestade perfeita que ainda não parou de fazer vítimas. Como se sabe, a confiança é a base de qualquer relação. Não compramos carne se não confiamos no talho. Não vamos ao restaurante se não acharmos que ele é higiénico. No caso dos bancos a situação é ainda mais sensível e epidérmica. Os interesses e as responsabilidades são infinitamente maiores. A nossa vida tem nas instituições de crédito uma das suas colunas mais importantes. Todo o cuidado é pouco para evitarmos movimentos alarmistas ou cenários delirantes. A queda súbita do Northern Rock e do Bear Stearns estão aí para nos lembrar.
Voltemos, então, ao início. O BCP recorreu a uma linha de crédito do Banco Central Europeu. Pediu emprestado mil milhões de euros. Para já, que se saiba, é o primeiro banco nacional que o terá feito. Acresce que mil milhões de euros é muito dinheiro – 20% do valor do BCP em bolsa. Mas o facto de se tratar de uma enorme injecção de capital não assume nenhum significado especial. Para um banco com a dimensão do BCP trata-se de uma operação financeira de rotina, embora feita com um instrumento invulgar – o recurso directo ao BCE, em vez da utilização do mercado interbancário.
Acontece que este não é um momento normal. Embora haja um esforço generalizado para dar a entender que a vida corre sem sobressaltos, o clima está longe de ser pacífico. Reflexo disto mesmo é o facto de os bancos quase não emprestarem dinheiro entre si. Como ninguém sabe quem tem saúde ou quem tem problemas, o prémio para emprestar dinheiro não compensa e o mercado começa a secar. Não há nada pior do que um mercado seco – mais dramático, talvez, só um mercado inundado de notas sem valor. Ora, para evitar uma corrida generalizada para a saída de emergência, fez bem o BCE em facultar esta janela de oportunidade aos bancos que precisam – ainda por cima a um preço mais barato. E fez bem o BCP em usar um mecanismo que existe para ser usado. Tudo que se diga além disto é puro disparate. Podemos dormir descansados. Carlos Santos Ferreira também.
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