Ao longo dos anos, João P. viu nos sucessivos créditos a solução para adiar os efeitos da crise. Hoje, protagoniza um dos mais de 800 casos de famílias do concelho de Sintra que viram os seus imóveis penhorados em 2011.
O empresário tinha um salário que rondava os quatro mil euros. Depois do encerramento da empresa que demorou anos a consolidar no mercado, a expropriação da residência onde vivia com a família fechou o capítulo iniciado com o acesso fácil ao crédito. "Era a única solução que tinha. Os clientes não pagavam e eu, para pagar a fornecedores e aos empregados, tive que recorrer ao crédito. Agora perdi tudo. Casa, carros e a qualidade de vida que tinha", disse o empresário à agência Lusa.De acordo com dados fornecidos à Lusa pela juíza presidente do Tribunal de Comarca da Grande Lisboa Noroeste, Ana de Azeredo Coelho, de Janeiro até Junho deste ano foram feitas 883 diligências públicas de execução e em 2010 o número atingiu as 988 diligências. A responsável estima que 90% destes números corresponda à venda de imóveis.
Segundo um relatório dos juízes do Juízo de Execução da Grande Lisboa Noroeste de Março de 2011, relativamente ao valor dos créditos bancários em cobrança, sem incluir juros, o valor global dos processos a correr neste tribunal ascendia aos dois mil milhões de euros. Este valor engloba um período de 2003 até ao presente ano, estando pendentes 62.747 processos de execução.
Presidentes de juntas de freguesia do concelho de Sintra mostram-se preocupados com o aumento das penhoras de imóveis, adiantando já não terem condições para ajudar todas as pessoas que vão bater às portas das autarquias.
Segundo a autarca de Monte Abraão, Fátima Campos, as dificuldades económicas são cada vez mais sentidas na sua freguesia e, se até há meses atrás a junta se envolvia no processo de ajudar as pessoas a encontrar uma solução, agora, dado o aumento de pedidos de ajuda, já não é possível fazer esse trabalho. "Antigamente vinham cá de seis em seis meses pessoas que já não conseguiam pagar as suas casas, entretanto penhoradas pelos bancos. Agora temos pelo menos dois casos por mês", disse.
Segundo o presidente da Junta do Cacém, José Faustino, a penhora de casas nesta freguesia está a atingir números bastante elevados, comparativamente a outros anos. "Tenho sentido muito esse aumento porque os funcionários de execução vêm cá publicar os editais. Este ano tem sido fora do normal", disse, adiantando que os efeitos da crise se fazem sentir ao nível dos atendimentos, uma vez que há um aumento do pedido de respostas ao nível de alimentação e medicamentos.
Filipe Santos, autarca de Rio de Mouro, adiantou que todos os dias recebe editais do tribunal relativos a despejos e penhoras de habitações e de lojas. O autarca lamentou que neste período de crise a Seg. Social apenas disponha de uma técnica para trabalhar nesta freguesia, onde moram cerca de 50 mil pessoas, 30% das quais com baixos rendimentos.
Em Massamá, este ano houve um "grande aumento" de casos de penhoras de imóveis, contou o presidente Pedro Matias. Em 2011 já foram "penhoradas 91 casas", enquanto em 2010 foram 60.
"Temos ainda um dado novo que não tivemos o ano passado. Recebemos editais do tribunal relativos a 17 processos de insolvências de pessoa singular ou colectiva. Estes são os sinais da crise", adiantou.
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