Andámos a cavar a recessão que se aproxima desde os últimos anos do século XX
Andámos a cavar a recessão que se aproxima desde os últimos anos do século XX, cegos e surdos a todos os avisos. E aí está o violento e doloroso corte no nosso nível de gastos, obrigado pelos mercados e por Berlim. E que pode não ser suficiente.
O próximo ano, já sabemos, vai ser extremamente difícil para todos nós. Vamos entrar na terceira recessão em menos de uma década. E só muita sorte evitará que 2012 seja igualmente um mau ano.
Se o Governo não nos estiver a dizer a verdade toda, como já aconteceu ao longo deste ano, corremos o risco de ter a segunda década do século XXI também completamente perdida.
As previsões do FMI correm o risco de pecar por defeito. As medidas de austeridade que o Governo diz que vai tomar no Orçamento de 2010, numa conta por alto, reúnem condições para reduzir a despesa interna em dois a três por cento. Compensar essa quebra com exportações, e assim evitar a recessão como diz o Governo, exige das empresas portuguesa uma enorme capacidade em substituir os seus clientes portugueses por estrangeiros e uma igualmente elevada dinamização da procura de produtos portugueses por economias para onde vendemos os nossos produtos. Não é fácil e pode mesmo ser impossível caso a economia europeia entre em mais uma fase de travagem por causa das medidas que estão a ser exigidas para reduzir os défices públicos.
Mais grave ainda será se o Governo estiver mais uma vez a dizer que vem aí o lobo sem qualquer lobo que se veja à porta. O ainda mal explicado Orçamento do Estado deste ano, com uma necessidade suplementar de recursos que vêm do fundo de pensões da PT sem que se perceba onde está a despesa adicional, justifica todas as dúvidas sobre a credibilidade das contas que estão a ser apresentadas aos País, em traços largos.
Como é que, como diz a Standard & Poor's, apesar de todas as medidas anunciadas em Maio e as agora previstas, o défice público continuaria este ano acima dos 8% sem o fundo de pensões da PT? E como é que se espera corrigir estruturalmente as contas públicas com mais um aumento do IVA e um corte de salários?
É desejável que a nova recessão que vamos viver seja de facto a "boa recessão", aquela que nos começa a livrar de uma vez por todas dos problemas de excesso de procura pública e privada que nos perseguem praticamente desde finais do século passado.
Na passagem para o ano de 2009, os "Gato Fedorento" desejavam que se saltasse directamente para 2010. Nesta altura, desejamos um salto para 2013 ou mesmo 2014.
Os avisos sobre as dificuldades que nos esperavam foram feitos há pelo menos cinco anos. Mas ninguém quis ouvir. Desde pelo menos o ano 2000 que sucessivos governos andam a dizer que agora é que é, agora é que vamos corrigir os nossos excessos. As promessas não cumpridas já nos custaram uma década perdida de prosperidade e vamos a caminho da terceira recessão. Se em vez de brincar à contabilidade tivéssemos disciplinado as contas públicas e usado a política orçamental com toda a artilharia pesada para combater a euforia gerada pelo euro, hoje já estaríamos a crescer.
Esperemos que esta não seja mais uma recessão para nada, por se estar mais uma vez a fingir que se resolve o problema. Se esta for uma boa recessão, quem sabe em 2013 poderemos regressar à prosperidade. Com contabilidade criativa estaremos ainda a falar de contas públicas.
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