
O Reino Unido está todo ele em manifestação contra os trabalhadores estrangeiros. É grave, é assustador e não é apenas proteccionismo: é a civilização na Idade Média. Todos os povos têm, afinal, um preço: o dos ingleses é este.
O Reino Unido está todo ele em manifestação contra os trabalhadores estrangeiros. É grave, é assustador e não é apenas proteccionismo: é a civilização na Idade Média. Todos os povos têm, afinal, um preço: o dos ingleses é este.
Nem quando Thatcher teve três milhões de desempregados, mais do que hoje, se chegou a este canibalismo de sobrevivência. É disso que se trata: expulsar o próximo para lhe ficar com o emprego. Ser estrangeiro não é uma ideologia profunda, é um critério à mão. E se o Governo inglês e a Rainha (se não for para isto, serve Majestade para quê?) não contrariarem este impulso de purga, podem guardar um capítulo na história do Século XXI para este reino pouco unido, que afinal também expulsa povos. Se Winston Churchill cá andasse...
Não se trata de lições de moral, mas de perceber o que está em causa. Depois de motins em França e na Grécia, chegamos ao hooliganismo inglês à porta das fábricas. É uma semente do mal, que pode gerar contra-reacções em cadeia nos povos que querem expulsar. Nós, cidadãos do mundo, devemos temer. Nós, portugueses, podemos tremer. Nós, que até temos na História a ignomínia moral (e o erro económico!) de expulsar os judeus, fizemo-nos emigrantes e ainda o somos.
As manifestações no Reino Unido são um resultado visível da crise económica brutal que nos assola. É a xenofobia económica que ameaça os povos.
Também há a xenofobia financeira. A escala é incomparável mas começa a ser insuportável o desdém com que a Standard & Poor's revê o risco de dívida de Portugal e das nossas empresas.
Nicolau Santos já escreveu duas vezes sobre isto no "Expresso" e eu entro no coro. Não se trata de "forças ocultas" ou de complexos de perseguição: a S&P está a tratar de forma injusta e descaradamente desequilibrada Portugal, Espanha, Itália e Grécia, mantendo países que têm os bancos em frangalhos (como a Inglaterra, a Irlanda, a Alemanha, a Bélgica) com "ratings" melhores, logo a pagar menos que os nossos.
Ontem foi a vez do BES e do BPI, com ameaças ao BCP. Desacreditadas, as agências de "rating" mantêm, todavia, a eficácia das decisões: estas revisões significam que pagaremos mais pelo crédito, em termos absolutos e também relativamente a concorrentes quase falidos. Os cobardes são assim: fortes com os fracos e fracos com os fortes.
A não ser que seja, também, preconceito. Que nos desqualifiquem por sermos PIGS (Portugal, Itália, Grécia, "Spain"), como na piada da decadente City de Londres. Os bancos portugueses e espanhóis estão entre os que se portaram melhor nesta história, os nossos por terem renegado grandes riscos que prometiam grandes lucros, os deles por terem (alguns) feito bem as suas internacionalizações - ambos por melhor gestão.
Se aqueles que emprestam dinheiro forem melhor informados do que a S&P é formada, pode até haver, por ironia, um ricochete que nos beneficie: como pagaremos taxas de juro mais altas mas não temos (temos?) risco de incumprimento, pode haver mais crédito disponível. Mas isto é o que os ingleses chamam de "wishfull thinking", "desejo que aconteça".
O que se está a passar em Inglaterra faz não me apetecer elogiar-lhes a língua. Mas como não me presto a bárbaro, continuo a citar-lhes as melhores expressões: "shame on you".
A GANÂNCIA BANCÁRIA:
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