
Os resultados de 2008 dos grandes bancos em Portugal foram maus. Menos lucros, menos receitas, mais malparado e perdas em acções devastadoras (nos balanços ou nos fundos de pensões). Agora, é preciso capital: uns recorrem a accionistas, outros a clientes, outros a amigos. O BCP faz a tripla.
Os resultados de 2008 dos grandes bancos em Portugal foram maus. Menos lucros, menos receitas, mais malparado e perdas em acções devastadoras (nos balanços ou nos fundos de pensões). Agora, é preciso capital: uns recorrem a accionistas, outros a clientes, outros a amigos. O BCP faz a tripla.
Apesar do grande plano comum, os resultados não foram todos iguais. O Santander Totta teve os melhores resultados entre os quatro grandes privados, com uma rentabilidade que já não se usa. Como ele, também o BPI escora a sua solidez de capital num accionista espanhol, dispensando aumentos de capital (e alimentando o seu negócio a partir de Angola). De capital precisa o BES e o BCP, que têm formas diferentes de chegar a esse fim. Falta saber os resultados da Caixa, mas é certo que as brutais perdas com acções lhe vão comer um resultado que, de outra forma, poderia ser pornográfico: o banco do Estado captou depósitos como ninguém, mas canalizou os créditos com uma missão mais de Estado do que de banco - veremos com que custos.
São os bancos mais capitalizados aqueles que sairão melhor desta crise. E mesmo quem discorda não tem alternativa, depois dos ingleses terem aumentado os rácios mínimos de capital dos bancos, forçando todos os outros a fazê-lo, mesmo que contrariados.
O BCP apresentou ontem resultados sob uma grande expectativa: precisaria de aumentar capital? Mas como, se os seus accionistas estão depenados e se o BES se antecipou e já fez uma colocação, ocupando "espaço" no mercado? Desfecho: o BCP precisa de mais capital. Mas não precisa de aumentar capital.
Saiu um coelho da cartola: o BCP vai emitir títulos que, ao abrigo das novas regras contabilísticas de Basileia, criam um alçapão que permite não ter de pedir mais dinheiro aos accionistas. Pede aos clientes: inspirado no que o Sabadell fez em Espanha, o BCP pedirá capital aos balcões.
Não há grande mal na solução, mas também não há grande bem. É uma alternativa provavelmente cara e pouco flexível, que ajudará a sacrificar a margem (esqueçam os ROE por uns anos). Tem no entanto o condão de não exigir dinheiro aos accionistas, que o não têm, penhorados que estão aos credores, de que é exemplo o eixo outrora virtuoso, agora vicioso, BCP, Teixeira Duarte, Cimpor (que já caiu no colo da Caixa, transformada numa Casa de Penhores que paga o que o cliente precisa).
O Millennium não faz o aumento de capital que quer, mas a emissão de títulos que pode. É uma solução que, todavia, confia numa norma (IRB) que o Banco de Portugal ainda não aprovou. A necessidade aguçou o engenho e, felizmente, não aguçou a engenharia. O relatório de auditoria dirá como interpretar um nível de provisões muito mais alto que os concorrentes (se é prudência ou se antecipa ainda mais imparidades no malparado, por exemplo, com operações imobiliárias). E clarificará o ganho de "trading" de 110 milhões no último trimestre (mais de metade do lucro) que não está detalhado no relatório de ontem.
O Millennium conseguiu passar a fase de auto-destruição sem perder clientes, o que foi notável. Se conseguir que esses clientes lhe emprestem agora 1,2 mil milhões de euros, o BCP pode voltar a agradecer-lhes a confiança. Se não conseguir, há alternativas. Capital do Estado? "Nunca", diz Santos Ferreira. Há sempre empréstimos da Casa de Penhores.
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