
O BCP tornou-se um arrastão.
A sua desvalorização em Bolsa tornou dezenas de empresas e investidores reféns de bancos que lhes fiaram crédito para investir no Millennium. Joe Berardo, Manuel Fino, Teixeira Duarte, Filipe de Bottom, João Pereira Coutinho, João Rendeiro e outros notáveis investidores ficaram hipotecados. A maioria já reestruturou as suas dívidas, ganhando fôlego com carências do pagamento das dívidas. Mas isso é um socorro, não é uma solução.
O próprio BCP mantém-se num dilema. Provavelmente, precisará de aumentar capital mas tem muitos dos seus accionistas descapitalizados. O dinheiro hoje disponível no mercado para aumentos de capital pede em regra descontos na casa dos 30%, o que passaria por vender acções talvez abaixo dos 50 cêntimos (!), menos de metade do aumento do ano passado. É, também, uma forma de pôr os accionistas passados a pagar parte da destruição de valor no banco. Mas seria uma diluição da sua participação.
É por isso que se especula sobre a necessidade de um novo accionista, que tome todo o aumento de capital que o BCP possa querer ou precisar. O BBVA? A Caixa? Ou o Estado: recorrer à reserva de até quatro mil milhões de euros disponibilizados pelo Governo para aumentos de capital.
O BCP, na verdade, poderia já estar nas mãos da Caixa. Bastaria que a CGD executasse as acções daqueles a quem deu crédito e que até os suspensórios já puseram no prego. Isso, no entanto, significaria reconhecer o malparado, prejudicando ainda mais os rácios da Caixa. Caixa que já teve de dar o que não queria para aguentar o BPN à tona.
A tragédia no BCP foi que, ao seu desmando accionista, sucedeu a crise financeira que afundou ainda mais o seu valor bolsista. As suas acções passaram a ser como um vírus na carteira dos seus accionistas e o caso da Teixeira Duarte é um exemplo do que está em causa: a propriedade das grandes companhias portuguesas tal como a conhecemos.
As empresas e os bancos precisam de capital, que escasseia. Isso vai significar mudanças nas estruturas de poder. Não duvide: a lista anual das 1000 maiores empresas em Portugal vai mudar muito. A lista das 10 maiores também.
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